sexta-feira, 26 de junho de 2009

"não deveria.."


Esta luz, este fogo que devora.

Esta paisagem gris que me rodeia.

Esta mágoa por uma só ideia.

Esta angústia de céu, de mundo e de hora.

Este pranto de sangue que decora

Lira sem pulso já, lúbrica teia.

Este peso do mar que me golpeia.

Este lacrau que no meu peito mora.

São grinalda de amor, cama de ferido,

Onde, sem sono, sonho-te a presença

Entre as ruínas do peito meu sumido;

e embora eu busque o cume de prudência

dá-me teu coração vale estendido

com cicuta e paixão de amarga ciência


Federico García Lorca

Tradução de José Bento

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