domingo, 9 de agosto de 2009
Ponto final!
À vezes me surpreendo a pensar em meu pai
no silêncio do quarto, horas tardes, a sós...
Vejo-o magro e doente, a morrer sem um ai !
Julgo ouvir pela noite a dentro, a sua voz !
Morreu meu pai, - meu pai... meu verdadeiro amigo...
Assisti-lhe o sofrer, longos meses a fio,
e ainda tenho em meus nervos, a vibrar comigo,
seu último estertor... seu último arrepio...
Olhei-o ... Procurei-lhe o olhar, transido e aflito,
busquei-lhe o pulso, em vão... Morto meu pai. - morrera !
Tomara essa expressão de ausência, de infinito,
das estátuas sem vida e dos corpos de cera !
Por mais que lhe notasse a placidez da face,
o semblante sereno, o olhar frio e sem cor;
por mais que a sua mão febril se enregelasse
e ouvisse ao meu redor mil explosões de dor;
por mais que lhe fitasse a figura impassível
já perdida num ar de calma e inexistência,
- não podia aceitar... era atordoante e incrível
que a vida se evolasse assim como uma essência!
Efêmera e fugaz, num segundo vencida,
como um floco de espuma ou uma folha que cai...
Eis, enfim, ao que eu vi se reduzir a vida
naquele instante absurdo em que perdi meu pai !
Era tudo irreal, monstruoso, inaceitável !
A morte transcendia ao seu próprio realismo !
Era como se o mar, se o céu, se o imensurável
rolassem aos meus pés, em caos, sobre um abismo !
Morreu meu pai. Às vezes me surpreendo a sós
retendo-o na lembrança em mil detalhes vãos...
Vejo-lhe o vulto, o olhar; ouço-lhe o riso, a voz,
- sinto-o perto de mim, chego a tocar-lhe as mãos...
Morreu meu pai. Morreu o único homem no mundo
que acreditava em mim com um cego amor, profundo,
e via em meu destino indeciso e sem brilho
um caminho glorioso... uma esperança imensa ...
Pobre pai!... Que este humilde poema de seu filho,
escrito em seu louvor, feito à sua memória,
possa, - ao menos por isso, - honrar a sua crença!
- e até justificar a minha vida inglória !
( Poema de JG de Araujo Jorge - do livro
Eterno Motivo; - Prêmio Raul de Leoni,
da Academia Carioca de Letras - 1943 )
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Momento triste perder um ente querido,né amiga?Eu nunca perdi ninguém,e nem quero imaginar o dia que isso me acontecer...
Bjs!
Postar um comentário